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quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Ética a Nicômaco. Liv II, cap 1 - 3: Virtude Moral

 
Cap. I – Virtude Moral

Virtude: hábito digno de louvor. Ser virtuoso é meio caminho para a felicidade.[1]

Para se chegar ao conceito de virtude perfeita (a melhor e mais completa), Aristóteles passa a examinar a natureza da virtude moral. Divide, então, a virtude moral em duas espécies:


1. da parte racional da alma, as virtudes intelectuais, próprias (dada ao uso razão), ensinada, “requer experiência e tempo”;

2. da parte não racional da alma, as virtudes morais (dada às paixões), imbricadas nos costumes, em “resultado do hábito” (1096a20)[2].

Ato e Potência: “Não é por natureza, nem contrariando a natureza que as virtudes se geram em nós. Diga-se que somos adaptados por natureza a recebê-las [potência] e nos tornamos perfeitos pelo hábito [ato]” (1096a25).

Potencial virtuoso: Não nascemos naturalmente virtuosos, mas com potencial para possuir as virtudes. E é praticando atos virtuosos que as adquirimos: “Adquirimo-las pelo exercício, como também sucede com as artes” (1096a32).

Educando: “Tornamo-nos justos praticando atos justos” (1103b). Devem os legisladores tornar os homens bons incutindo-lhes bons hábitos desde a juventude.

Cap. II – As virtudes, como praticá-las

Virtude: a excelência própria de qualquer ação realizada. A prática virtuosa determina o caráter de um homem.

A conduta do homem: Aristóteles não está interessado em saber simplesmente o que é a virtude, mas, sim, procura investigar a natureza dos atos, aqueles que de forma prática e útil devem ser praticados para tornar bons os homens, e preocupa-se com o homem particular, pois a ação individual determina o caráter do sujeito.

O homem particular: cada pessoa atuante deve “considerar, em cada caso, o que é mais apropriado à ocasião, como também sucede na arte da navegação e da medicina” (1104a7).

Falta X Excesso. Em toda ação, manter as coisas em suas devidas proporções é fundamental para que elas não sejam destruídas. Recorre então ao exemplo da saúde justificando que alimentos e bebidas devem ser consumidos na medida certa, pois tanto a deficiência como os excessos prejudicam o corpo.

A regra justa: a mediania preserva (virtude); a falta e o excesso destroem (vícios). Devemos agir de acordo com a regra justa, a reta razão. No caso da coragem (uma virtude), o homem que tudo teme é um covarde (falta); e aquele que não teme absolutamente nada, torna-se temerário (excede).

O hábito atualiza: “tornamo-nos temperantes abstendo-nos de prazeres, e é depois de nos tornarmos tais que somos capazes dessa abstenção” (1104a34).


Cap. III – Virtudes, prazeres e dores

A virtude se relaciona com prazeres e dores: as virtudes [morais] dizem respeito a ações e paixões, e cada ação e cada paixão é acompanhada de prazer e dor (1104b14).

Segundo Aristóteles, o prazer e a dor que acompanham os atos são indicativos do caráter do sujeito. Os homens que se abstém de prazeres em excesso e se deleitam com essa abstenção são temperantes. Já os que se aborrecem, intemperantes. A excelência moral relaciona-se com prazeres e dores (1104b10).

Educação na medida certa: a conselho de Platão, e tomando como exemplo a frugalidade espartana, prudente no uso de recursos e no consumo, aconselha que a moderação seja ensinada desde a juventude, de forma que, sem excessos ou faltas, possamos nos acostumar com prazeres e dores, aqueles que nos devem causar deleite ou sofrimento (1104b13), de forma que saibamos conduzi-los sempre na medida certa.

O Castigo: “o castigo é uma espécie de cura, e é da natureza das curas efetuarem-se pelos contrários” (1104b16)E todo “estado da alma tem uma natureza relativa e concernente à espécie de coisas que tendem a torna-la melhor ou pior” (1104b20)Para que possamos manter atualizada essa potência natural e sermos excelentes naquilo que temos que realizar, ou seja “como se deve” e “quando se deve” (1104b26), devemos estar sempre atentos ao que é realmente o melhor em excelência a respeito dos prazeres e dores, sendo os vícios seu contrário.

O impulso: três objetos de escolha instigam os homens: o nobre, o vantajoso e o agradável; e seus contrários, o vil, o prejudicial e o doloroso. “Medimos nossas primeiras ações pelo estalão do prazer e da dor” (1105a5).

Concluindo

1. “A virtude tem que ver com prazeres e dores” (1105a14).

2. “Os atos de onde surgiu a virtude são os mesmos em que ela se atualiza” (1105a16).



[1] ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco, Livro II, cap. 1-3;
[2] ARISTÓTELES (348-322 a.C). Metafísica : livro 1 e livro 2 ; Ética a Nicômaco ; Poética ; seleção de textos de José Américo Motta Pesanha ; trad. Vincenzo Cocco; -- São Paulo : Abril Cultural, 1979. (Os pensadores); e ZINGANO, Marco. Aristóteles : tratado da virtude moral ; Ethica Nicomachea I 13 - III 8, Obras comentadas. -- São Paulo : Odysseus Editora, 2008;

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Texto Completo: ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco.
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