Ética nicomaqueia, o mais "belo" tratado da conduta humana
Três tratados
nos legou Aristóteles: Magna Moralia, Ethica Eudemia e Ethica
Nicomachea. O último, uma reunião dos três. A ética em foco, questões sobre a responsabilidade moral e a liberdade de ação. Destaques para a felicidade, o bem supremo; as virtudes e a amizade: os principais fundamentos da conduta humana.
Para melhor compreensão da leitura da Ethica Nicomachea, dividiremos o texto em quatro
partes:
Um – Tratado sobre a Felicidade
(Livro I, cap.: 1-12).
Inicia com o
estabelecimento da noção de felicidade, o propósito da conduta humana, mediado pelas virtudes (morais e intelectuais).
Diz ele: "A felicidade é definida como certa atividade da alma segundo perfeita virtude" (ARISTÓTELES, Liv I, 6 - 1098a16-17. Trad.: Zingano, 2008, 12).
Diz ele: "A felicidade é definida como certa atividade da alma segundo perfeita virtude" (ARISTÓTELES, Liv I, 6 - 1098a16-17. Trad.: Zingano, 2008, 12).
"O bem do homem nos aparece como uma atividade da alma em consonância com a virtude, e, se há mais de uma virtude, com a melhor e mais completa" (A, Liv I, 7 - 1098a16-17. trad.: Vincenzo Cocco, 1979, 56).
Dois – Tratado sobre a Virtude Moral (Livro I,
cap.: 13; e Livro III, cap.: 8).
Ser virtuoso é meio caminho para a felicidade.
Para se chegar ao conceito de virtude perfeita (a melhor e mais completa), Aristóteles passa a examinar, com destaque, a natureza de três elementos que compõem sua unidade: a virtude moral; a escolha deliberada (II 6) e o ato voluntário (III 1-6).
Para se chegar ao conceito de virtude perfeita (a melhor e mais completa), Aristóteles passa a examinar, com destaque, a natureza de três elementos que compõem sua unidade: a virtude moral; a escolha deliberada (II 6) e o ato voluntário (III 1-6).
Em nova subdivisão, separa o conjunto das Virtudes Morais em dois: a parte não
racional (das virtudes naturais), e a parte racional da alma (das virtudes próprias); e as denomina respectivamente de virtude moral e virtude intelectual.
- A virtude moral ou boa medida de
nossas emoções é concebida entre o prazer e a dor (virtudes morais); mas é também resultado de
nossa disposição de escolher por deliberação, segundo a razão (virtudes intelectuais). Seu perfeito equilíbrio consiste em
estabelecer uma mediedade relativa entre esses dois pontos; e cabe a nós a escolha priorizando a reta
razão (segundo Aristóteles) num jogo entre esses dois contrários: Emoção X Razão.
- Escolha deliberada (II 6): "é a determinação que a razão impõe no domínio
prático” (ZINGANO,
2008, 12).
- Ato voluntário ou ato involuntário (III 1-6). Nova discussão
que envolve a força de uma ação original, explosiva, irracional; e a força da razão
deliberativa, imperativo racional, que se estende sobre a natureza
voluntária ou involuntária dos atos humanos: o exame da ignorância das
circunstâncias; o fato do agente arrepender-se ou não. Se se arrepende, o ato é
involuntário; se não se arrepende,
embora o ato não seja voluntário, o
ato não é propriamente involuntário, mas não-voluntário.
- Ato voluntário: o princípio está no agente + o agente conhece as
circunstâncias nas quais a ação ocorre.
Toda escolha
deliberada é voluntária, mas nem todo ato voluntário (certa intuição) ocorre
por escolha deliberada. É como ocorre com as crianças e os animais que possuem
razão deliberativa apenas de forma parcial, incipiente.
A Questão do Tempo: um contínuo divisível entre Motivação e Ação
A Questão do Tempo: um contínuo divisível entre Motivação e Ação
Aristóteles propõe um tempo contínuo divisível entre a motivação (o belo), e a ação (agir bem): agir com vistas ao belo (τὀ καλόν). Importante o destaque que o professor Zingano atribui a respeito do 'bem" (platônico) e do "belo" (aristotélico) com suas especificidades de época. O Estagirita introduz a noção antiga de belo, τὀ καλόν; e do agir com vistas ao belo, τοὺ καλοὺ ἕνεκα.
Já a noção antiga de bem, (bom), τὀ ἀγαθόν,
está conectada ao que é benéfico e vantajoso para o sujeito.
O filósofo estabelece uma noção moral do bem desvinculada do que é proveitoso ou benéfico para o agente: “O bem que procuramos é o bem em escala humana” (...) “por felicidade entende o agir bem; é feliz quem age bem”; às vezes “agir bem implica buscar o que é moralmente belo à custa do que nos é vantajoso ou benéfico”. A noção de belo guarda a “dimensão altruísta do ato moral”. (ZINGANO, 2008, 21).
O filósofo estabelece uma noção moral do bem desvinculada do que é proveitoso ou benéfico para o agente: “O bem que procuramos é o bem em escala humana” (...) “por felicidade entende o agir bem; é feliz quem age bem”; às vezes “agir bem implica buscar o que é moralmente belo à custa do que nos é vantajoso ou benéfico”. A noção de belo guarda a “dimensão altruísta do ato moral”. (ZINGANO, 2008, 21).
Três – Tratado sobre a Prudência (Livro VI).
Estudo da natureza da prudência, que é justamente a boa
deliberação a título de virtude
intelectual do domínio prático (agir reto, ação perfeita).
Nesse capítulo, Aristóteles divide
a virtude moral em duas: virtude natural, intuitiva, original,
temos ao nascer ou adquirimos por hábito, aquela que nos fornece o princípio
correto da ação (das partes do irracional); e virtude própria
(das partes racionais), subjetiva, relativa a certo uso da razão, das experiências, adquirida com prudência, “envolve
sabedoria prática” (1144b1-17).
Quatro – Tratado sobre os Modos de Vida (Livro X, cap.: 6-9).
Vida contemplativa
e vida política. Estes, frutos do caráter virtuoso consolidado, veremos por último.
Mas não termina aqui. Para que possamos fortalecer os alicerces desse núcleo argumentativo que dividimos em quatro subtemas (felicidade, virtude moral, virtude intelectual e modos de vida), acataremos a sugestão que faz o prof. Zingano e analisaremos também os seguintes suplementos encontrados no interior do texto aristotélico:
Livro III, 9; e Liv V: as virtudes particulares (caso a
caso);
Liv
VII, 1 – 11: o fracasso moral (acrasia,
intemperança);
Liv
VIII; e Liv IX: a amizade;
Liv
VII, 12 – 15: o prazer como
atividade sem entraves;
Liv X, 1 - 5: o prazer como coroamento, um plus da atividade.
Liv X, 1 - 5: o prazer como coroamento, um plus da atividade.
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Referência
- ZINGANO,
Marco. Aristóteles : tratado da virtude moral ; Ethica Nicomachea I 13 - III 8,
Obras comentadas. -- São Paulo : Odysseus Editora, 2008.
- ARISTÓTELES
(348-322 a.C). Metafísica : livro 1 e livro 2 ; Ética a Nicômaco ; Poética ;
seleção de textos de José Américo Motta Pesanha ; trad. Vincenzo Cocco; -- São
Paulo : Abril Cultural, 1979. (Os pensadores).
Continua: ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco - Livro I, cap. 1-5
Texto completo: Ética a Nicômaco
HOME: http://ofilosofoqueri.blogspot.com.br/
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